HISTÓRIA EVOLUTIVA DO PAMPA GAÚCHO REVELADA A PARTIR DE
MARCADORES GENÉTICOS
Marrero A.R. 1; Leite F.P.N. 1,2; Ruiz-Linares A. 3; Salzano
F.M. 1; Bortolini M.C. 1.
1 UFRGS, Porto Alegre, Brasil; 2 Instituto Geral de
Perícias, Porto Alegre, Brasil; 3 University College, London, United Kingdom.
andreamarrero@terra.com.br
Tanto o gaúcho riograndense quanto o gaucho platino são
reconhecidos por sua visível unidade cultural, que ultrapassa fronteiras, já
que ambos surgiram por influência dos mesmos fatores. Visando avaliar a
natureza do processo que originou o povo gaúcho, caracterizou-se geneticamente
uma amostra da região pampeana do Rio Grande do Sul (Brasil), com relação a
marcadores uniparentais de herança matrilineal (mtDNA) e patrilineal (Y-SNP e
Y-STR). Foram analisadas 105 seqüências da HVS-I do mtDNA, das quais 52%, 37% e
11% foram identificadas com haplogrupos ameríndios, europeus e africanos,
respectivamente. Considerando apenas as de origem ameríndia, verificou-se que
estão distribuídas como segue: A 30%, B 31%; C 30% e D 9%. A marcante diferença
nas distribuições destes haplogrupos, observada em comparação com grupos
Guaranis, reforça a idéia de que outros grupos nativos (Charruas), através de
suas mulheres, contribuíram de maneira marcante para a formação das populações
contemporâneas da região. Uma vez que marcadores do cromossomo Y são a
contrapartida masculina para inferências obtidas com mtDNA, foram estudados 7
Y-SNPs (DYS199, M242, M9, 92R7, sY81, M19 e RPS4Y711) e uma inserção Alu (YAP) em
150 gaúchos. O haplogrupo mais freqüente foi o P*(xQ) com 58% sugerindo que a
maior parte dos cromossomos Y da amostra seja de origem européia. Entretanto,
5% dos cromossomos Y são do tipo Q3*(xQ3a), indicando que uma pequena porção da
contribuição ameríndia veio pelo lado paterno. Adicionalmente, foram estudados
13 Y-STR (DYS391, DYS389I, DYS439, DYS389II, DYS438, DYS437, DYS19, DYS392,
DYS393, DYS390 e DYS385a/b). Com este conjunto de loci, foram observados 81
haplótipos, dos quais 74 deles (91%) são únicos. Comparando estes dados com
outros previamente publicados para portugueses (N=185), espanhóis (N=1743) e
outras populações do Brasil (N=631), observou-se a importante contribuição de
ibéricos na formação masculina atual do Pampa. Conjuntamente, estes resultados
mostram a natureza assimétrica dos casamentos (homem ibérico X mulher
ameríndia) que ocorreram na região na época colonial. Além disso, o Pampa
parece constituir-se em um extraordinário reservatório de linhagens
mitocondriais de grupos nativos extintos (Charruas).
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