O Povoamento das Américas: Uma Abordagem
Multidisciplinar
Hilton P. Silva
Silva H.P. 1, Rodrigues-Carvalho C. 1
1
Museu Nacional/UFRJ, Rio de Janeiro
hdasilva@acd.ufrj.br
Já há vários anos o Setor de Antropologia Biológica
do Departamento de Antropologia do Museu Nacional/UFRJ (SABMN) vem
realizando uma série de atividades de pesquisa e divulgação voltadas
para as discussões sobre as origens e a diversidade biocultural dos
primeiros povos que chegaram ao continente Americano. Uma dessas
atividades foi a realização do livro 'Nossa Origem: O Povoamento das
Américas, Uma Abordagem Multidisciplinar'. Nele é demonstrado como a
perspectiva multidisciplinar contribui para o entendimento das
complexas questões relacionadas à origem dos primeiros americanos.
No século XIX Peter Lund (1801-1880) encontrou no Brasil os
registros humanos mais antigos, contemporâneos com a megafauna
pleistocênica. No século XX achados arqueológicos como o de “Luzia”,
em Lagoa Santa, MG, comprovaram a grande antiguidade da ocupação do
continente e, juntamente com técnicas recentes de reconstituição
facial a partir de material ósseo, que os primeiros habitantes não
se pareciam fisicamente com os grupos indígenas atuais. A
complexidade e variabilidade das línguas faladas pelos Ameríndios
cria uma série de barreiras para sua organização de forma
simplificada e cronológica; no entanto, assim como os geneticistas,
os lingüistas continuam a procurar formas de contribuir para uma
síntese teórica sobre o povoamento pré-histórico das Américas. Hoje
as ferramentas da genética e da biologia molecular nos permitem ver
detalhes em nossa árvore genealógica com os quais nem sonhávamos 20
ou 30 anos atrás e na medida em que novos marcadores são usados, as
respostas ficarão potencialmente mais claras. Da mesma forma, a
paleoparasitologia, assim como a biogeografia, também têm trazido
informações importantes, permitindo conhecer mais sobre a ecologia e
as rotas migratórias das primeiras populações americanas. Todas
essas especialidades têm contribuído substancialmente para as
teorias explanatórias sobre o período de chegada, a origem e a
diversidade dos nativos do continente. No entanto, somente
trabalhando em conjunto, de forma multidisciplinar, será possível
fazer inferências mais realistas sobre os processos e mecanismos de
ocupação das Américas. Olhando para os achados da América do Norte e
do Sul sabemos que ainda há muito a ser feito e que pesquisas
isoladas não serão capazes de fornecer todas as respostas. O que
conhecemos até o momento é apenas a ponta do iceberg e é isso que
torna o desafio do trabalho multidisciplinar tão excitante.
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